Reproduzo, matéria de Diego Meneghetti – para revista Fotografe Melhor – Dez 2011

Pouco mais de um ano após o lançamento, o aplicativo criado para iPhone virou uma ferramenta que aprimora a linguagem visual dos fotógrafos

Nos últimos meses, a capital paulista foi palco de pelo menos cinco exposições dedicadas exclusivamente a fotos compartilhadas pelo Instagram, software de imagens criado para o iPhone. Galerias no prestigiado bairro de  Vila Madalena, espaços em lojas de material fotográfico, e até paredes de bares e restaurantes requintados exibiram muitas fotos publicadas nesta “rede social” de imagens.

No fundo, a tentativa destas mostras (e de várias outras, até internacionais, que pegam carona no sucesso do aplicativo) é reproduzir, fisicamente, o que ocorre no meio on-line: a apresentação de imagens cheias de significado, que aguçam o olhar de quem as vê e impulsionam os observadores a fotografar mais e melhor.

Porém, ainda que tragam um charme à plataforma e atribuam a ela uma chancela de “arte”, as exposições não conseguem captar a dinâmica própria desse aplicativo, razão principal de seu sucesso: por meio do Instagram, é possível fotografar, tratar a imagem, ver o resultado e, com o smartphone conectado à internet, mostrar as fotos para muitas pessoas, de maneira quase instantânea. Essa velocidade é o ideal de muitos produtores de imagens, que desde muito tempo são limitados pela difusão analógica, em papel, por meio de livros, revistas, jornais ou das próprias exposições.

“O sonho do fotógrafo é ter sempre uma câmera à mão para poder registrar, ver a imagem na hora e compartilhar o resultado. Isso é que o Instagram permite. Hoje, uso o iPhone mais como uma câmera fotográfica que para fazer chamadas. Até fotografo mais com o telefone do que com câmeras tradicionais”, diz o fotógrafo Toni Pires, um dos muitos entusiastas do aplicativo no Brasil.

Obviamente, a publicação de imagens pela internet não é novidade, sendo um dos principais usos do meio on-line há pelo menos 15 anos. Os blogs e as redes sociais, como Facebook e Twitter, também permitem, há tempos, que as pessoas acompanhem o que seus conhecidos fazem, seja por meio de textos ou fotos. O que o Instagram trouxe de inovação foi abrir um espaço conectado e dedicado à linguagem visual, feita apenas por meio de imagens. Nada de textos ou outras interferências que tirem a atenção de quem vê uma foto.

“Hoje em dia, vários aparelhos têm câmera fotográfica, o que fez com que a produção de imagens se tornasse algo comum. Muita gente faz fotos e mais gente ainda as consome. Porém, poucas dessas pessoas tem tempo para digerir essas imagens. O Instagram é uma maneira de forçar esse tempo de degustação de imagens”, comenta o fotógrafo.

Com larga experiência em fotojornalismo e edição de imagens, Toni tem usado o Instagram também para “descondicionar” seu olhar do tipo de trabalho que costuma fazer. “O aplicativo permite você ter outras vivências, com outros olhares possíveis para uma mesma cena”, afirma. Ele tem usado o iPhone, inclusive, para muitos trabalhos profissionais. Um deles foi na cobertura que fez para o especial 2016, da revista Istoé, acompanhando Fausto Fawcett durante a noite carioca.

“Fomos a lugares como boates, em que não seria possível fotografar com câmeras tradicionais. Programei o celular para tocar a cada dez minutos, o que facilitou fazer as fotos. Em vez de atender à ligação, fazia uma foto”, explica Toni, que também publica as imagens feitas com Instagram na agência Revelar Brasil (www.revelarbrasil.com.br).

Diálogo visual

Outro fotógrafo renomado que usa o aplicativo e pode ser “seguido” no Instagram é Cássio Vasconcellos. Para ele, que desenvolve trabalhos autorais, como o publicado na edição 169 de Fotografe, o Instagram é a forma que encontrou para aprimorar sua linguagem, mostrar seu trabalho e estar em contato com outras pessoas com igual interesse.

“O interessante do aplicativo é o dialogo visual que se cria. Eu gosto de me comunicar por imagens. Essa é a minha linguagem”, diz Cássio, que confessa não ter apreço por outras redes sociais como Facebook ou Twitter. “Prefiro falar por meio de fotos”, conta.

Cássio também ressalta o aspecto comentado por Toni de que, no Instagram, as pessoas dedicam tempo e atenção para degustar imagens. “É um pouco semelhante ao tempo em que usávamos o projetor de slides para mostrar as fotos para os amigos. As pessoas iam até sua casa e dedicavam um tempo para apreciar aquelas imagens projetadas. Não importavam se as fotos eram da viagens de férias ou imagens conceituais. O Instagram resgata um pouco dessa apreciação de fotos”, comenta.

O fotógrafo diz que não se importa muito com a forma de registro das imagens compartilhadas no Instagram. Algumas fotos que ele publica são do acervo que fez com câmeras tradicionais, em situações diversas. Mas isso não significa que discorde do uso do smartphone para fotografia. Pelo contrário. “Sou a favor de sempre experimentar novos formatos e linguagens. Há mais de dez anos, quando os celulares ainda faziam fotos com pouca qualidade, montei uma exposição com alguns fotógrafos só imagens fotos feitas com esses telefones. Na época, muita gente me criticou, da mesma forma que criticaram as câmeras digitais quando elas começaram a tomar o lugar das analógicas”, diz.

Para Cássio, discussões como estas são inférteis. “O que interessa é o que você quer dizer com a imagem. O Instagram faz sucesso pois permite que as pessoas digam o que quiserem, contem suas histórias, por meio de imagens. Para fazer isso, não é necessário muita técnica, e sim um olhar treinado”, afirma.

Assim como Toni, Cássio diz que usa o aplicativo várias vezes ao dia, para postar e acompanhar o trabalho de outros usuários. “Tem muita gente que faz ótimas fotos, não é fotógrafo profissional e, às vezes, nem é ligado à área de imagem. Ter a câmera sempre com você permite estar sempre treinando o olhar”, comenta Cássio.

Por outro lado, ele faz uma importante ressalva. “Ter uma câmera à disposição não significa que a pessoa fará belas fotos, pois não é todo mundo que sabe se comunicar por imagens. É a mesma coisa que acontece com a literatura. Não é porque alguém sabe escrever e tem caneta e papel à disposição que conseguirá escrever belos textos. Na foto, treinar o olhar é importantíssimo e o Instagram é uma ótima ferramenta para isso”, finaliza.

Conecte-se

Mesmo quem não tem iPhone, é possível acompanhar o trabalho dos dois fotógrafos no Instagram – e de qualquer usuário da rede – por meio de aplicações web, como a web.stagram.com. Para encontrar o trabalho de Toni Pires, procure pelo usuário “@tpires”. Ele mantém seu portfólio atualizado também no site pessoal www.tonipires.com/blog

No Instagram, Cássio Vasconcellos pode ser encontrado com o usuário homônimo “@cassiovasconcellos”. Em qualquer aparelho com acesso à internet, é possível ver as fotos feitas por Cássio também no site www.cassiovasoncellos.com.br.

Box

Coisa de brasileiro

Um dos criadores do Instagram é brasileiro, embora seu nome esconda um pouco da origem. Michel Krieger tem 25 anos, é programador de software e desenvolveu o Instagram em parceria com o americano Kevin Systrom, quem conheceu na Universidade de Stanford, na Califórnia, EUA. Foi lá que Michel cursou a graduação, a pós-graduação e “mudou” seu nome para Mike (que tem uma pronúncia mais fácil no inglês que Michel).

O Instagram iniciou-se como uma startup (empresa iniciante no segmento de tecnologia) há pouco mais de um ano e ainda se mantém com o dinheiro de investidores, como a empresa Benchmark Capital (que também investiu no Twitter), já que o aplicativo é gratuito e não exibe publicidade.

Em setembro foi lançada a segunda versão do aplicativo que, além de novos filtros, agora permite fazer fotos com até 1.936 x 1.936 pixels, resolução bem maior que os 612 x 612 pixels da antiga versão. Mesmo sendo disponível apenas para iPhone (há planos de uma versão para aparelhos movidos a Android), o Instagram reúne uma comunidade com mais de dez milhões de usuários no mundo, que publicaram mais de 150 milhões de fotos. O Brasil está em terceiro lugar no ranking de usuários, atrás de Estados Unidos e Japão.